Institut Pasteur de São Paulo

UVC inativa o novo coronavírus, mas tipo de material e áreas não expostas limitam sua eficácia

UVC inativa o novo coronavírus, mas tipo de material e áreas não expostas limitam sua eficácia


 

7 de julho de 2021 – A eficácia da radiação ultravioleta (UVC) para inativar o novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi mais uma vez comprovada. Desta vez, o estudo foi realizado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) em parceria com a Plataforma Científica Pasteur-USP (SSPU, da sigla em inglês), com apoio da Associação Fundo Patrimonial Amigos da Poli, e que resultou no protótipo de um equipamento que desinfeta máscaras em larga escala. Os achados da pesquisa, no entanto, indicam que a eficácia da UVC com esta finalidade depende da porosidade do material e da existência de áreas não expostas durante a aplicação da radiação.

A pesquisa foi realizada com retalhos de máscaras cirúrgicas, de algodão e N95, contaminadas com o vírus SARS-CoV-2 e submetidas à radiação UVC em três condições: 15 minutos (0,453 J/cm2), 30 minutos (0,905 J/cm2) e 45 minutos (1,358 J/cm2). A validação da desinfecção das máscaras foi feita por reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-qPCR), para detecção de cópias de RNA viral, e por unidades formadoras de placa (UFP). A carga viral utilizada nos testes foi de 470 mil partículas, possivelmente muito maior do que a que é liberada por doentes de Covid-19.

“No primeiro teste, analisamos se a UVC conseguiu quebrar o RNA – material genético que, se estivesse íntegro, possibilitaria a multiplicação do vírus. Já o segundo foi feito para confirmar se havia alguma partícula viral infectante”, explica Lilian Gomes de Oliveira, pesquisadora da SPPU que coordenou esta etapa dos testes.

Segundo ela, os resultados mostram que é necessário considerar as diferenças de porosidade de cada material para a completa inativação do vírus. “Quinze minutos foram suficientes para inativar o vírus nos tecidos, mas, nos retalhos de elástico, o tempo necessário foi de 45 minutos”, afirma ela.

Dispositivo de desinfecção contínuo – O protótipo do equipamento para a desinfecção das máscaras foi desenvolvido por pesquisadores da Poli-USP, sob a coordenação do professor Antonio Carlos Silva Costa Teixeira, do Grupo de Pesquisa em Processos Oxidativos Avançados (AdOx), do Departamento de Engenharia Química. Participaram do trabalho os pesquisadores Bruno Ramos e Patrícia Metolina.

Em sua primeira versão, o dispositivo possibilita desinfetar cerca de 90 máscaras por hora e conta com um sistema de bloqueio automático que desliga as lâmpadas UVC caso seja aberto inadvertidamente. “Isso é muito importante porque a radiação UVC é perigosa e causa danos à saúde; nenhuma parte do corpo pode ser exposta à radiação”, enfatiza.

“Inicialmente, para testes com UVC construímos um dispositivo estático, ou seja, as máscaras não eram movimentadas durante exposição à radiação. Depois, criamos um túnel de UVC pelo qual as máscaras atravessam, sendo expostas em ambos os lados e recebendo a dose de radiação necessária para inativação dos vírus. Mesmo assim, é possível haver áreas de “sombra”, ou seja, pontos em que a radiação UVC não atinge diretamente a superfície do material”, explica. Uma possível solução para este problema, que ainda precisa ser estudada, é associar a aplicação de UVC com uma névoa de peróxido de hidrogênio (água oxigenada).

O estudo em parceria com a SPPU, segundo o professor, foi importante para ampliar a base de conhecimento sobre inativação de micro-organismos. Desde 2000, o grupo de pesquisa de Teixeira pesquisa processos fotoquímicos para remoção de poluentes industriais e contaminantes emergentes, presentes em água e ar. Ele acredita que esse conhecimento é importante para outras aplicações da radiação UVC. Exemplo: usar menos cloro no tratamento de água potável. Embora o uso do cloro seja um processo bem conhecido e consolidado, em algumas condições seu uso pode gerar substâncias cloradas nocivas à saúde.