Institut Pasteur de São Paulo

Pesquisadores da SPPU descrevem RNAs que podem influenciar resposta à vacinação

Pesquisadores da SPPU descrevem RNAs que podem influenciar resposta à vacinação


 

Com inteligência artificial, o grupo analisou dados de mais de 2 mil pacientes e descobriu que RNAs não codificadores longos estão envolvidos na resposta imunológica por vacina. O estudo pode ajudar no desenvolvimento de vacinas mais eficazes.

14 de abril de 2020 – Diante de suas características individuais, desde a genética até o modo de vida, cada pessoa pode ter uma resposta imunológica diferente à vacinação. A comunidade científica tem tentado determinar quais genes – fragmentos de DNA – estão envolvidos em uma melhor resposta, para otimizar o desenvolvimento de vacinas. O grupo do pesquisador Helder Nakaya, um dos PIs (principal investigators) da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU, na sigla em inglês), analisou a situação sob uma nova abordagem.

Em vez de estudar genes que codificam proteínas, os pesquisadores optaram pelos RNAs não codificadores longos (lncRNAs) e descobriram que eles também têm um papel importante na resposta imunológica às vacinas. Utilizando a vacinologia de sistemas, os cientistas analisaram mais de 2.000 amostras de pacientes de 17 estudos coortes, realizados por diferentes laboratórios e disponibilizados para uso público. “A técnica consiste em reunir informações dos genes que são induzidos ou expressos durante a aplicação de uma vacina e utilizar aprendizado de máquina – inteligência artificial – para descobrir quais desses genes preveem uma boa resposta imunológica”, explica Nakaya.

Segundo o pesquisador, a técnica já foi aplicada com sucesso em estudos de mecanismos moleculares de várias vacinas. No entanto, costuma-se focar na análise de genes codificadores de proteínas. “Nós escolhemos estudar os RNAs não codificadores longos porque, na verdade, apenas 1,2% dos genes é traduzido em proteína. Então, estávamos ignorando uma grande parte do genoma, que poderia ter funções importantes”.

A partir do estudo, o grupo catalogou os lncRNAs envolvidos em respostas de anticorpos às vacinas da gripe e febre amarela, criando um banco de dados on-line para divulgar os resultados. Uma das descobertas foi que a expressão do lncRNA FAM30A era alta nas células B (células que produzem anticorpos). Os pesquisadores também identificaram a mesma alteração em estudos coortes de crianças imunizadas com a vacina intranasal da gripe, sugerindo que os lncRNAs desempenham um papel comum em vacinas diversas.

O próximo passo, segundo Nakaya, é tentar validar o projeto obtendo colaborações para a realização de testes in vivo. “Se eu sei que um RNA não codificador longo é importante para uma célula B produzir anticorpos, por exemplo, talvez eu possa introduzir esse RNA na vacina para tentar melhorar as respostas desses anticorpos”.