Pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur-USP analisaram milhares de estudos e descobriram que esses indivíduos têm um alto nível de expressão do gene ACE-2, importante para a entrada do coronavírus nas células.
14 de abril de 2020 – Um estudo da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU) identificou uma das possíveis causas para os casos graves e a alta mortalidade por COVID-19 em pessoas com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doença pulmonar obstrutiva crônica. Coordenada pelo pesquisador Helder Nakaya, a equipe analisou milhares de artigos científicos relacionados a essas doenças e verificou que os pacientes possuem um aumento da expressão do gene ACE-2, que facilita a infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
Os cientistas utilizaram a tecnologia Sequenciamento de Nova Geração, que permitiu medir os níveis de expressão de mais de 25 mil genes em mais de 700 amostras de pulmão. O gene ACE-2 faz parte do Sistema Renina Angiotensina, que regula a pressão arterial e a inflamação no organismo – o que explica a sua expressão aumentada nesses pacientes.
Esse gene já havia sido identificado como essencial para a entrada do novo coronavírus no organismo, uma vez que expressa o RNA mensageiro que orienta a produção da proteína angiotensina-2, à qual o vírus se liga para infectar as células.
Segundo Nakaya, o grupo partiu da evidência de que a quantidade inicial de vírus que uma pessoa recebe está relacionada às chances de desenvolver um quadro mais severo da doença. “A hipótese que levantamos foi que as doenças crônicas permitem que mais vírus entrem nas células e isso aumentaria a suscetibilidade à forma grave da COVID-19. O aumento da expressão do gene ACE-2 é uma das explicações”.
Reposicionamento de fármacos – Dando continuidade ao estudo, o pesquisador Helder Nakaya e sua equipe estão analisando artigos científicos para identificar possíveis candidatos de medicamentos capazes de controlar os níveis do ACE-2 no organismo, a fim de evitar as consequências mais sérias da COVID-19 em indivíduos com doenças crônicas.
Trata-se de uma estratégia de reposicionamento de fármacos, que usa medicamentos já existentes para um novo propósito. “Utilizando o computador, podemos analisar milhões de artigos simultaneamente para descobrir quais fármacos e quais genes estão associados a diferentes tipos de doenças virais, e assim encontrar possíveis candidatos para o nosso alvo”. O pesquisador esclarece que não é possível estimar quanto tempo levaria para um fármaco identificado como candidato ser testado e aprovado. No entanto, destaca que a técnica agiliza a descoberta de uma solução para proteger os pulmões desses pacientes.