Intenção de implementar unidade brasileira da instituição francesa foi formalizada no último dia 4.
8 de julho de 2023 – A instalação de uma unidade do Instituto Pasteur no Brasil, prevista para acontecer no próximo ano em São Paulo, vai permitir a consolidação de parcerias voltadas à compreensão de uma série de doenças que afetam a população brasileira, mas que também são de interesse global. O assunto foi debatido durante evento que celebrou os 200 anos do nascimento de Louis Pasteur e os 60 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), quando foi ainda assinado um termo de intenção entre o Instituto Pasteur, o Governo do Estado e a Universidade de São Paulo (USP) para a criação de uma unidade da instituição francesa no Brasil.
“Há doenças ocorrendo em diversas partes do Brasil que são completamente diferentes no Norte, Sul, Leste e Oeste do país, mas temos parceiros nessas várias regiões que nos ajudam em trabalhos colaborativos. Temos certeza de que o que quer que tenhamos de pesquisar, há especialistas nos diversos campos para nos ajudar”, disse Paola Minoprio, coordenadora executiva da Plataforma Pasteur-USP (SPPU, na sigla em inglês), conjunto de laboratórios localizado na USP onde será instalada uma futura unidade do Instituto Pasteur no Brasil.
Um parceiro em potencial é a própria unidade do Instituto Pasteur na Guiana Francesa, território francês na América do Sul que faz parte da Amazônia e que, assim como os estados brasileiros situados no bioma, enfrenta problemas semelhantes, como doenças relacionadas à falta de saneamento básico ou transmitidas por vetores. No vizinho francês, apenas 47% da população tem acesso à rede de esgoto e entre 15% a 20% tem acesso a água potável. Para Christophe Peyrefitte, diretor da unidade do Pasteur naquela região, Brasil e França podem colaborar em um grande número de temas de pesquisa de interesse dos dois países.
“Se pudermos ir até a floresta capturar mosquitos e outros animais que são potenciais reservatórios para várias doenças e analisá-los, por exemplo, seremos capazes de ter uma visão geral do que pode emergir em termos de doenças. Essa estratégia poderia ser aplicada a vários lugares na fronteira entre Guiana Francesa e Brasil. Não sabemos exatamente o impacto do avanço das cidades, da mineração e das queimadas na floresta para gerar uma nova emergência de doenças. Essa é uma questão que podemos investigar juntos”, afirmou o pesquisador.
Diretor administrativo da FAPESP, Fernando Menezes falou sobre as muitas possibilidades de parceria com a Fundação, que atualmente financia boa parte dos estudos e equipamentos da SPPU. A criação de uma unidade do Instituto Pasteur em São Paulo, segundo ele, certamente vai gerar bons projetos a serem submetidos à FAPESP. Uma possibilidade, segundo Menezes, é a Iniciativa Amazônia + 10, encabeçada pela Fundação paulista em parceria com fundações de amparo à pesquisa e governos estaduais. A iniciativa apoia projetos de pesquisa em colaboração voltados à conservação da biodiversidade e adaptação às mudanças climáticas, além da proteção de populações tradicionais, desafios urbanos e bioeconomia na região. “A Amazônia +10 tem esse caráter regional, mas também o aspecto internacional, de incluir os países amazônicos. No caso da Guiana Francesa, já temos, inclusive, conversas acontecendo”, afirmou.
Durante o evento, pesquisadores ligados à SPPU apresentaram trabalhos que ajudaram a compreender diversos aspectos da COVID-19, realizados durante o auge da pandemia provocada pelo SARS-CoV-2. “Por meio de sua contribuição para a saúde pública durante a crise da COVID-19 e sua extensiva atividade de pesquisa, a plataforma se tornou parte integral do ambiente científico do Estado de São Paulo”, declarou o presidente do Instituto Pasteur, Stewart Cole, em depoimento por vídeo.
“Pasteur estaria muito feliz, porque o que discutimos aqui segue o espírito de seus valores”, encerrou Rebecca Grais, coordenadora executiva da Rede Pasteur.