Institut Pasteur de São Paulo

Análise de milhões de exames mostra relação entre idade e sexo e a gravidade da Covid-19

Análise de milhões de exames mostra relação entre idade e sexo e a gravidade da Covid-19


 

24 de agosto de 2020 – Uma equipe de pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur USP (SPPU) analisou mais de 4,5 milhões de dados de exames laboratoriais de 178,8 mil indivíduos brasileiros que foram testados para COVID-19 – sendo 33,2 mil positivos. O estudo, publicado na plataforma medRxiv e ainda sem revisão por pares, mostra a influência do sexo e da faixa etária do paciente em alterações clínicas e no desenvolvimento de inflamação sistêmica.

Os dados foram disponibilizados no repositório “COVID-19 Data Sharing BR” da FAPESP, com o apoio do Instituto Fleury, Hospital Sírio-Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein, e incluíram contagem completa de células sanguíneas, eletrólitos, metabólitos, enzimas, hormônios, biomarcadores de inflamação, entre outros exames. “Trata-se do maior coorte de análise de dados laboratoriais de pacientes com COVID-19 feito até então”, afirma o coordenador do estudo Helder Nakaya, pesquisador da SPPU e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Segundo Nakaya, o principal desafio foi filtrar e harmonizar os dados para poder dar início às análises. “Os dados estão todos em português, com acentos, e o mesmo exame aparecia com três nomes diferentes, por exemplo. Foi necessário criar uma série de filtros para processar as informações em um só banco de dados harmonizados”, explica. Após essa etapa, foram feitas diversas análises com ferramentas de Big Data para traçar o perfil clínico dos pacientes positivos e dos controles (que tiveram resultado negativo para SARS-CoV-2).

Um dos achados foi que homens entre 13 e 60 anos diagnosticados com a doença apresentaram alterações mais frequentes nos resultados de diversos exames do que mulheres da mesma faixa etária. Em indivíduos com mais de 60 anos, as alterações laboratoriais parecem ter afetado igualmente homens e mulheres.

Além disso, homens com mais de 60 anos apresentaram mais mudanças em biomarcadores de inflamação sistêmica, o que poderia explicar o alto índice de complicações e mortalidade nesses pacientes. Alterações em exames de função hepática também foram observadas em indivíduos de diferentes idades, indicando que problemas no fígado são comuns em pacientes com COVID-19. Isso poderia aumentar o risco de desenvolver uma inflamação sistêmica, já que o órgão ajuda a regular processos como inflamação e coagulação.

Em pacientes internados em UTI, os pesquisadores observaram alterações importantes em exames que avaliam o sistema de coagulação, contagem elevada de neutrófilos (células do sistema imune) e marcadores de inflamação. De acordo com os cientistas, isso sugere uma associação entre a gravidade da doença e a ativação descontrolada de processos inflamatórios, que poderiam ser a causa da coagulação.

Nos próximos passos do estudo, os pesquisadores pretendem utilizar técnicas de aprendizado de máquina para descobrir quais os parâmetros laboratoriais mais importantes para predizer a gravidade da doença.